polaroide (parte 2)

sexta-feira, 4 de maio de 2012


     era uma chapa em preto e branco. captada na perpendicular, o corpo dela se comportava inteiro dentro da imagem quadrada da polaroide. estava de bruços sobre a cama. o tórax encostado no colchão, enquanto o quadril empinava sua bunda o mais alto possível. vestida com uma camisa preta de botões inteiramente aberta, expunha um dos seios, pontiagudo, intumescido pelo tesão. além da camisa aberta, usava somente meias pretas 7/8, puxadas até a virilha, e um dos saltos semiencaixado ao pé. os dois pulsos estavam atados as costas, unidos por um lenço afrouxado. sua boca estava preenchida com o volume fálico dele de uma forma propositadamente perversa, fazendo certo volume na lateral da bochecha, com uma ponta da língua lambendo compulsivamente a parte de baixo da glande. a foto tirada de um angulo aéreo, até onde alcançava a altura do braço dele naquele momento, expunha os orifícios dela ocupados por objetos convenientemente cilíndricos: dois frascos metálicos de perfume, encontrados às pressas naquele instante. o lenço atado aos pulsos impedia maiores movimentos, e seus olhos derramavam um olhar de puro êxtase, que em conjunto com a imagem da boca perdida e preenchida pelo volume pulsante, formavam uma imagem estarrecedoramente erótica, perversa, depravada. sentada no colchão, o mesmo colchão aonde horas atrás havia encenado aquela imagem, encarava a foto petrificada, o olhar fixado, chocada com a sordidez do ato qual havia participado.

     sentiu certa vergonha de estar ali naquela foto. ruborizou sozinha ali, meio trêmula, sorrindo um sorriso amarelo com lábios tremulantes. de imediato aquela timidez se transformou em raiva contra ele. quis esganá-lo pelo pescoço. se sentiu de certa forma humilhada naquela posição. mas naquela ira momentânea, súbito notou o tremor aumentar, e um calor sufocante. sentiu-se molhar completamente de novo, dessa vez com o calor fumegante por todo o corpo. sentiu quase salivar a língua entorpecida na boca: sentiu tesão pela sua própria imagem, completamente livre de pudor ou culpa. percebeu que se tocava involuntariamente agora, e o tesão continuou queimando-lhe o corpo. na posição que estava, tombou-se de costas na cama, arqueando as coxas pra cima. com uma mão segurando a polaroide e outra apertando e girando o dedo vorazmente em torno no clitóris inchado, gozou compulsivamente ali, naquela cama novamente. gozou pra si mesma, embriagada por um desejo narcisista, por aquela versão devassa de si, que até então não sabia existir.

     levou a foto pra casa e a escondeu numa gaveta, entremeio suas ligas, calcinhas e brinquedos. não sabia exatamente porquê a escondeu, pois morava sozinha, mas a imagem rondava sua mente o tempo todo e desengatava sua imaginação ladeira abaixo. enquanto andava pela rua, ou sentada num restaurante, no meio de uma refeição, ou lendo um livro qualquer dentro do coletivo voltando pra casa e, de repente, lá estava em sua mente a imagem de si novamente, em plena devassidão. o sexo esquentava e umedecia. o calor já lhe subia o caminho do corpo: estava obcecada por seu eu despudorado.

     começou a pensar que aquela obcessão desenvolvida era consequência de tentar esconder a imagem de si própria, e aquilo estava agindo negativamente em sua libido. afinal havia tido uma sensação incrível com a nova personalidade que descobrira! e tudo que ela não queria era reprimir aquela maravilhosa descarga de prazer. então começou a carregar a foto consigo. pra onde quer que fosse, a prova física de seus desejos mais íntimos à acompanhava em sua bolsa.

     alguns dias depois, a obcessão ainda permeava seus pensamentos. caminhava pelas ruas retorcendo as ancas, firmemente presas sob lingeries diminutas. ou às vezes "na pele", sem adereço algum por baixo dos vestidos soltos ou jeans apertados. parada nos semáforos e pontos de ônibus, e na impossibilidade de se tocar em público, contraia trêmula suas coxas para pressionar o clitóris e aumentar o desejo contido. 

     certo dia, num desses momentos de tesão extremo em plena rua, entrou no banheiro público de um shopping e, segurando a imagem com a mão de apoio, se masturbou ali mesmo, admirando seu corpo registrado na polaroide, retorcido pelo prazer, ao mesmo tempo que lhe corria um calafrio, uma intensificação da adrenalina pelo medo de ser pega se tocando em recinto público. gozou mais potente ali naquela cabine insólita. quase não conteve um gemido alto de tão intenso prazer.

      a partir dali, a vontade de se tocar entre as pessoas se intensificou. em uma outra ocasião, entro num restaurante consideravelmente movimentado, e fez seu pedido. assim que o garçom entregou a refeição em sua mesa e virou-se para atender outro cliente, ela colocou a foto sobre a mesa, ao lado de seu prato, e com a mão por baixo da toalha, puxando a saia na altura das coxas, gozou silenciosa, ao ponto de lhe causar uma pequena tontura, seguida de uma cegueira instantânea e passageira. sentiu que o fetiche estava se intensificando. E desmesuradamente, ela queria mais.

     o próximo passo foi o exibicionismo. Na noite seguinte, sentiu uma vontade incontida de colocar seus pensamentos em prática. vestiu um top "band-aid" preto, um casaco e um saia curta, também preta. batom vermelho, salto alto. saiu de casa já trêmula pela excitação, com a foto na bolsa. Na boate escolhida, após alguns giros internos e bebida em punho, encontrou a primeira "vítima": sujeito alto, moreno, bebendo um drink solitário, encostado no balcão. ela já no seu segundo copo de gim fizz, encostou ao lado dele e, sem muito jeito para abordar uma conversa desse tipo com um estranho, já foi direto ao assunto: pediu a opinião dele sobre o que achava de comportamentos perversos e obcenos como "aquele", e apresentou-lhe a foto tirada de dentro da bolsa. ele sorriu maliciosamente, conferindo a imagem da foto e em seguida medindo-a, da cabeça aos pés: "eu diria que é muito interessante, babe", ele disse. "...seria mais interessante ainda se eu não estivesse esperando meu namorado". diante da resposta insatisfatória e já sob efeito do álcool, ela tirou-lhe rípida a foto da mão, meio de esbarrão.

     no outro canto do balcão, uma garota também bebia sozinha. tinha sua altura. ela notou um corpo bonito, bem torneado, que despontava dentro do jeans justo e da camiseta curta. um rabo de cavalo feito no cabelo exibia um pescoço aveludado, e ela teve uma súbita vontade de sentir o cheiro daquele pescoço e beijá-lo incessantemente. se aproximou para sua nova abordagem, pedindo ao barman mais um copo do que já estava bebendo.

"drinks azuis são felizes", disse a garota do jeans justo, se referindo à coloração azulada que partia do gim com soda. ela respondeu com um belo sorriso. "te pago um, se quiser... drinks azuis descem felizes, garganta abaixo!". riram discretamente. algo já se predispunha entre àqueles sorrisos flertantes e olhares furtivos. 

"está esperando alguém?", perguntou à garota do jeans justo.

"na verdade estou, mas ele está mais de uma hora atrasado. provavelmente levei um bolo!..." bebericou o resto de sua bebida, com o olhar dividido entre a porta de entrada e a bela e voluptuosa mulher de olhar encantador ao seu lado.

"sinceramente, quem deixa uma garota bonita assim esperando provavelmente não liga muito pra uma boa diversão... e está pedindo pra perdê-la!", ela quase murmurou bem próximo ao ouvido da garota do jeans justo.

     a garota do jeans justo arrepiou-se dentro de sua roupa colada. sentiu todo o corpo sensível, sentiu toda a roupa tocando cada centímetro de seu corpo, como se estivesse nua ali, no meio de todos, e principalmente ao lado da mulher fetichista que lhe comia com os olhos naquele momento, enquanto fuçava a bolsa novamente, numa procura cega, sem tirar os olhos da garota do jeans justo.

     "já teve momentos de completa devassidão em sua vida?", perguntou à garota do jeans com sua voz aveludada, mais próxima ainda do ouvido, e depositou a polaroide bem à sua frente, sobre o balcão onde bebiam. a garota do jeans justo não conteve a expressão de espanto, ovacionando o formato da boca com um certo sorriso maléfico: mal acreditava naquela imagem sadicamente perversa. 

     ela notou que o barman também havia visto a foto de seu eu depravado, mas não se importou. sentiu um certo tesão pela proximidade dele, que passava de um canto pro outro do balcão num ato de voyeurismo contido, e como um bom e gentil cavalheiro, preferiu não se meter no assunto restrito entre as garotas, guardando pra si próprio um sorriso interno. ele sabia onde as duas terminariam a noite. "hmmm!..." murmurou a garota do jeans justo, dividindo um olhar lascivo entre a foto e sua dona: "acho que vou aceitar aquele drink que você me ofereceu..."

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