polaroide (final)

sexta-feira, 4 de maio de 2012


     ela acordou com a visão turva, com vultos opacos, ouvindo vozes em torno. deitada de bruços, tentou levar a mão aos olhos embaçados, mas notou que não podia se mexer efetivamente: poderia levantar o pescoço e mexer limitadamente os pés, mãos e tronco, mas estava presa, afixada numa cadeira ergométrica que moldava seu corpo e elevava suas ancas, no centro de uma sala vermelho-escura. 

     algumas pessoas em sua volta, calculava pelas vozes umas 8 ou 10 pessoas, entre homens e mulheres. assim que a visão clareou, avistou seu querido confidente logo à sua frente, sentado numa cadeira, encarando-a, esperando que ela despertasse por completo.

     "aaahhh, enfim nossa bela “desadormeceu”, pessoas!", ele comemorou, com certo entusiasmo nervoso e sarcástico, e todos em volta ovacionaram. ela sentiu o coração disparar: "o que está acontecendo? por que estou amarrada? isso é alguma brincadeira de mal-gosto??? me liberte JÁ daqui, nesse instante!!", ela vociferou. ele manteve a calma e o controle. "calma, calma", disse complacente. "você está aqui como convidada especial de um experimento sexual-sociológico. quase antropofágico, eu diria! mas não se preocupe: a única coisa que será devorada, juntamente com todos os seus orifícios, será sua alma. seu corpo servirá como um banquete a essas pessoas perversas em sua volta"...

     ela girou o pescoço de ponta a ponta até o grau que as amarras permitiam e viu pessoas vestidas de forma extravagante: couros, peles, penas, correntes, roupas de látex. homens e mulheres excentricamente dispostos, alguns corpos quase inteiramente cobertos, com exceção da genitália. Alguns se tocavam, uns aos outros, sem o mínimo pudor, por cima das vestes, alguns enfiavam suas mãos em aberturas estratégicas nas vestimentas das outras. todos ali esfomeados por sua carne. "está pronta para seu próximo despertar?", ele continuou. "pronta para uma verdadeira experimentação da carne em seu estado mais amplificado?"

     à sua direita notou um espelho imenso, que à exibia de corpo inteiro. se viu deitada na cadeira ergométrica, de bruços, de nádegas empinadas para cima. completamente nua, apenas vestida com as meias pretas e o salto fino com qual saiu de casa. uma correia prendia seus dois pulsos às costas, como na polaroide, e suas pernas, afastadas em quase sessenta graus uma da outra, se encontravam presas, cada uma delas pelos tornozelos, por fivelas que levavam até seu pescoço, numa gargantilha de couro preto coberta de rebites.

     da porta ao lado do espelho saíram dois núbios altos, fortes, as peles negras reluzentes borrifadas por uma camada de óleo hidratante, completamente nus, a não ser por capuzes de couro negro com coleiras que os ligavam por correntes grossas à mão de uma bela mulher que vinha logo atrás, guiando-os. uma espécie de reencarnação da Vênus em Peles, que usava somente um corset de couro preto, sem busto e sem ligas, e um salto fisicamente impossível de se manter de pé.

     a cena toda era meticulosamente confusa e caótica, para os olhos de alguém que havia sido dopada alguns minutos atrás. Sugeria neurose, pavor do que poderia vir acontecer com sua integridade física. Faria qualquer um entrar em pânico, esbravejando e tentando se livrar das amarras; porém, curiosamente, ao invés de sentir esse medo visceral e incontido que aparentava ao despertar, a visão de seu corpo, nu e acorrentado, refletido no espelho imenso, fê-la tremer-se por inteiro de calor e tesão. Sentiu uma aura quente e brilhante em torno de toda pele, seguida de uma alegria incontida e de um relaxamento que beirava uma sensação de torpor intenso. E descobriu ali, naquela sala soturna com pessoas estranhas, que havia encontrado o que procurava, que era exatamente ali onde deveria estar naquele momento. a descoberta faz com que seu sexo pulsasse de emoção, e se encharcasse com a mais densa seiva, acumulada com o esforço conjunto de todo corpo em convulsão, que clamava pelas descargas de adrenalina que viriam em seguida. com certo esforço, empurrou as mãos amarradas no torso em direção à bunda que já se encontrava arqueada, e agarrou as nádegas, puxando-as para trás, num movimento que arrebitou e abriu ainda mais todo seu sexo visto por detrás. o tesão foi tanto que lhe escorreu um fio viscoso, licoroso, do lubrificante natural que minava de sua boceta.

     "eu trouxe a máquina polaroide", disse o amigo iniciador sorrindo, enquanto o sinistro trio caminhava lentamente em sua direção. e ela sorriu pra ele. sorriu um sorriso gozoso, maléfico, sorriu com a boca aberta, lambendo os lábios compulsivamente com a língua saltitante pra fora da boca, de onde da ponta escorria um fio de saliva em direção ao chão, com olhos semicerrados, olhando de rabo de olho para o triunvirato do prazer e dor que se aproximava mais e mais...

"então vamos para a próxima fase..." 

***

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